sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Filme "A GUERRA DO FOGO"



Sinopse:

O filme guerra do fogo retrata a nossa origem comum e enfatiza pontos da Teoria do cientista inglês, Charles Darwin. Porém, durante todo o filme se pergunta: por que e como somos diferentes dos demais animais se a nossa origem foi comum. E porque a diferença de comportamento entre os indivíduos e grupos de indivíduos se todos os seres humanos são membros da mesma humanidade. Essa pergunta foi respondida no decorrer da história do filme, quando víamos diferentes grupos de hominídeos com habilidades diferentes de simbolizar e expressar sensações no meio onde viviam. A resposta estava na cultura. Quando o primeiro grupo de hominídeos se vira sem o fogo, importante para a culinária e segurança do seu grupo além de proteção contra o imenso frio, já que ainda viviam seminus, três deles partiram para uma aventura, que os levaram não somente a trazer de volta o fogo, mas também conhecimentos e tecnologia que contribuíram a evolução do seu grupo, através de contato com outros grupos mais evoluídos. Essa diferença entre todos os hominídeos apresentados no filme se mostra quando os protagonistas se deparam com grupos menos evoluídos (canibais) e outro mais evoluído, descobrindo técnicas de artesanato, pintura corporal, lançadores de flecha, cerâmica, erva medicinais, construção de cabanas e, principalmente, a arte de produzir fogo por atrito. Além da linguagem e expressões como o sorriso e o humor, vindos de uma pedrada na cabeça involuntária e até mesmo o amor quando o líder do pequeno grupo se apaixona pela nativa daquela comunidade mais evoluída e com ela aprende a correta forma de se relacionar sexualmente e a respeitar seu semelhante. A Guerra do Fogo, com roteiro de Burgess e direção de Annaud, pode ser monótono para quem não tem curiosidade pelo tema. Mas aqueles que se interessam não só pela origem da linguagem, mas pelas raízes da espécie humana e pelo florescer da razão e das tecnologias, irá apreciar o filme.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Freud e o complexo de Édipo

A tragédia edipiana e o complexo de Édipo

Uma profecia foi anunciada ao rei de Tebas, Laios. Preocupado com sua infertilidade, ele foi consultar o oráculo que lhe disse que era uma benção não gozar da paternidade, pois um filho de sua esposa, Jocasta, o arruinaria, destronando-o e tomando sua esposa. Assim, o rei afastou a rainha de seu leito. Jocasta, percebendo a distância, embebedou-o para poder com ele se deitar e conceber. Quando a criança nasceu, o rei mandou matá-la. Um escravo furou o pé da criança e o pendurou num monte para que perecesse e os abutres o comessem.
Mas uma infeliz coincidência fez com que um pastor resgatasse a criança e a entregou para ser criada pelo rei Polibo de Corinto que não tinha filho. A criança foi chamada de Édipo (por ter os pés inchados).  Atingindo a idade adulta, Édipo consultou o oráculo e este lhe disse que ele desgraçaria sua família, assassinando seu pai e tomando sua mãe por esposa. Por amar seus pais adotivos, Édipo resolveu partir de Corinto.
Numa estrada, Édipo encontrou-se com Laios que o ordenou a sair da frente da condução, ao que Édipo disse que não iria obedecer senão a seus pais e aos deuses. Um escravo de Laios, então, passou por cima do pé de Édipo, que, tomado de raiva, matou a todos sem saber que Laios era, na verdade, seu pai biológico. Laios tinha saído de Tebas à procura de solucionar o problema da Esfinge, uma praga que assolava sua cidade. Este monstro criou um enigma: “O que tem às vezes 2, às vezes 3, às vezes 4 pernas e quanto mais tem, mais fraco é?” Quem não acertasse a resposta seria devorado e a peste continuaria assolando a cidade. Édipo que se encontrou com o mostro resolveu o enigma: é o homem, pois ele engatinha quando criança, anda quando adulto e usa bengala quando velho. A esfinge se autodestruiu e a cidade foi salva, aclamando Édipo como novo rei. Com isso, ele tomou Jocasta, sua mãe, por esposa, sem o saber. Assim, uma nova desgraça caiu sobre a cidade e para ser reparado o erro, as profecias pediram que o tebano que o cometeu morresse.
Sem saber de quem se tratava, o mistério só foi revelado quando a mãe de criação de Édipo, Peribeia, em uma carta, revelou a adoção de Édipo. Jocasta se matou ao saber que tinha se tornado esposa de seu filho, com o qual teve quatro filhos, e Édipo, com o camafeu (um alfinete) de Jocasta, cegou-se e saiu vagando no exílio.
Ora, essa tragédia se realizou porque a todo instante cada escolha foi feita tentando evitá-la. Destino, fatalismo ou liberdade? Eis a questão que pairou numa Grécia que visava consolidar a democracia após um período de aristocracia com base nos mitos e também, nos tempos modernos, para explicar o funcionamento da psique humana. Freud construiu o famoso “Complexo de Édipo” usando o exemplo da tragédia para elucidar as questões mais fundamentais da sexualidade humana. A psicanálise entende que há uma estreita e profunda relação sentimental entre o filho e a mãe, que gera satisfação e prazer inconsciente no contato com a amamentação, além da imagem do pai, na visão da criança, como competidor. Nas suas várias fases de desenvolvimento, há uma tendência ao prazer sexual, segundo a forma como cada uma delas é desenvolvida (fase oral, anal e sexual).
Uma lembrança importante: houve uma tentativa de imitar a história da tragédia grega na telenovela brasileira nos fins da década de 80. Em 1987, Mandala foi ao ar pela Rede Globo, numa adaptação de Dias Gomes do texto de Sófocles e protagonizada por Vera Fischer, Felipe Camargo e Nuno Leal Maia, entre outros.

Por João Francisco P. Cabral
Colaborador Brasil Escola
Graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Uberlândia - UFU
Mestrando em Filosofia pela Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP

 

"Penso, logo existo"

A árvore cartesiana, os princípios metafísicos e Deus

René Descartes - Autor do
René Descartes - Autor do "discurso do Método" e das "Meditações Metafísicas"
Matemático, físico e filósofo, autor do “Discurso do Método” e das “Meditações Metafísicas”, Descartes elaborou um novo método de conhecimento fundado sobre a razão, a única capaz de permitir ao homem alcançar um conhecimento perfeito das verdades mais elevadas. O famoso “Cogito ergo sum” (Penso, logo existo!) faz do pensamento o princípio da existência.
Tendo feito seus estudos clássicos com os jesuítas de La Fléche, Descartes logo se interessou pelas matemáticas como se fossem a causa da certeza e da evidência de suas razões. O sistema que elaborou é marcado pelo rigor. No prefácio dos Princípios da Filosofia, ele define o conhecimento (a Filosofia) semelhante a uma árvore. As raízes são constituídas pela Metafísica, indicando que todo saber do sistema se apoia sobre a existência de Deus, considerado como o revelador e criador das verdades. É, portanto, de Deus que o homem deve deduzir as regras indispensáveis para compreender o mundo. Nessa perspectiva, a Física é a aplicação dessa concepção de conhecimento, formando o tronco da árvore. E, enfim, os galhos são constituídos pelas outras ciências (Medicina, Mecânica) e a moral, que surgem como os resultados da pesquisa, sobre a qual o próprio Descartes esboça grandes tratados.
O método cartesiano resultante dessa concepção toma como ponto de partida a solução da “tábula rasa” que consiste em negar toda existência, todo dado. Mas negar supõe em si a existência de um pensamento, já que é preciso pensar para negar, evidenciando, assim, a existência de uma razão. Essa razão é suscetível de conhecer a verdade, porque Deus existe, ao mesmo tempo tendo criado o mundo e a ferramenta necessária para conhecê-lo. Essa ferramenta é o espírito humano.
Mas o homem é falível e para usar corretamente o método é preciso utilizar alguns princípios comuns. São eles:
- Saber que o bom senso é a coisa mais bem partilhada do mundo, como potência de bem julgar e distinguir o verdadeiro do falso. É a isto que denominamos bom senso ou Razão e que é igual em todos os homens;
- Necessidade de um método: não é o bastante ter o espírito bom, mas o principal é aplicá-lo bem. As grandes almas são capazes dos maiores vícios, bem como das maiores virtudes;
- Probidade intelectual: jamais receber alguma coisa por verdadeira sem que a tenha conhecido evidentemente, isto é, evitar a precipitação e a prevenção;
- Lealdade política e moderação: a primeira regra é obedecer às leis e aos costumes de meu país, observando constantemente a religião na qual Deus deu ao homem a graça de ser instruído desde a infância, devendo se autogovernar seguindo as opiniões mais moderadas e distantes dos excessos;
- Aceitação estoica do mundo: cuidar sempre de superar a si mesmo ao invés de querer mudar os outros;
- Primazia do pensamento e limite do ceticismo: notando que o Cogito é tão firme e seguro que nenhuma suposição extravagante dos céticos seria capaz de enfraquecê-lo, deve-se tê-lo pelo primeiro princípio da Filosofia.
Assim, ao compreender a realidade de forma evidente e, por isso, racional, pensada, podemos utilizar os princípios do método filosófico a fim de conservar nossa saúde, gerir melhor os negócios e também nos tornarmos melhores a nós próprios, afastando-nos da superstição e da presunção sem que com isso caiamos no ceticismo absoluto. Deus é, em última instância, a verdade que garante ao sujeito o poder de conhecer.

Por João Francisco P. Cabral
Colaborador Brasil Escola
Graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Uberlândia - UFU
Mestrando em Filosofia pela Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP